quinta-feira, 17 de maio de 2012

Emocionada, Dilma instala Comissão da Verdade


Roberto Stuckert Filho/PR
CERIMÔNIA de instalação do colegiado ocorreu, ontem, no Palácio do Planalto


BRASÍLIA (AE) - Presa política e torturada durante o regime militar, a presidente Dilma Rousseff, mesmo emocionada a ponto de apertar a boca para conter o choro que olhos marejados revelaram, repudiou o revanchismo nas investigações da Comissão da Verdade, instalada ontem em cerimônia no Palácio do Planalto. “O País reconhecerá nesse grupo, não tenho dúvidas, brasileiros que se notabilizaram pelo espírito democrático e pela rejeição a confrontos inúteis ou gestos de revanchismo”, disse.

Escudada por quatro ex-presidentes, Dilma afiançou o “pacto” político materializado na Lei da Anistia que permitiu a transição para a democracia, mas exigiu que a memória e as histórias dos mortos sejam reveladas, apontando a responsabilidade de agentes do Estado. “A sombra e a mentira não são capazes de promover a concórdia”, ressaltou.


“Nós reconquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais, muitos deles traduzidos na Constituição de 1988”, disse. “Assim como respeito e reverencio os que lutaram pela democracia enfrentando bravamente a truculência ilegal do Estado, e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e lutadoras, também reconheço e valorizo pactos políticos que nos levaram à redemocratização”, completou. Dil­ma defendeu o direito de os familiares enterrarem os mortos durante o regime militar ao afir­mar que “a força pode esconder a verdade, a tirania po­de impedi-la de circular livremente, o medo pode adiá-la, mas o tempo acaba por trazer à luz e, hoje, esse tempo chegou”.


Com voz embargada, em recado sobre o objetivo da comissão de mapear as responsabilidades dos agentes de Estado, disse que “as novas gerações merecem a verdade, e, sobretudo, merecem a verdade factual aqueles que perderam amigos e parentes e que continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre a cada dia”. “O direito à verdade é tão sagrado quanto o direito que muitas famílias têm de prantear e sepultar seus entes queridos, vitimados pela violência praticada pela ação do Estado ou por sua omissão”.


Ao lado dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor e José Sarney, e observada por uma plateia repleta de antigos presos políticos, como ela, a presidente Dilma fez um discurso firme. Ela afirmou que a comissão, cujo propósito é averiguar as circunstâncias e o paradeiro de mortes e desaparecimentos de 1946 a 1988, não está movida pelo “revanchismo, ódio, ou o desejo de reescrever a história de uma forma diferente da que aconteceu”.


Para a presidente, o que a move é “a necessidade imperiosa de conhecê-la (a verdade) em sua plenitude, sem ocultamento, sem camuflagem, vetos, sem proibições”. A comissão é formada por sete integrantes: José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique), Gilson Dipp (ministro do STJ e do TSE), Rosa Maria Cardoso da Cunha (ex-advogada de Dilma Rousseff), Cláudio Fonteles (ex-procurador-geral da República no governo Lula), Maria Rita Kehl (psicanalista), José Paulo Cavalcanti Filho (advogado e escritor), Paulo Sérgio Pinheiro (ex-secretário de Direitos Humanos).

Fonte:http://www.folhape.com.br/cms/opencms/folhape/pt/edicaoimpressa/arquivos/2012/Maio/17_05_2012/0068.html

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