1 Preservar as cabeceiras dos rios – Para reduzir o tamanho das enchentes, é essencial conter o desmatamento nas cabeceiras dos rios. Num terreno com vegetação nativa, a água das chuvas leva mais tempo para chegar ao curso d’água. As próprias folhas das árvores absorvem parte da chuva e reduzem o impacto das gotas no solo. Além disso, troncos e folhas no chão ajudam a reter a água. O solo, menos compactado, absorve mais água. A diferença foi medida em pesquisas em Ubatuba, no litoral de São Paulo. Nas encostas com floresta, o risco só surge com uma precipitação de 360 a 520 milímetros em três dias. Sem vegetação nativa, chuvas de 120 milímetros já provocam desabamentos e cheias.
2 Regularizar a ocupação dos morros – O que aumentou as perdas de vidas e danos materiais foram construções em áreas de encostas perigosas. “Essas obras criaram um efeito duplo. Aumentaram o desmatamento e colocaram as pessoas em zonas de risco”.
3 Aumentar o escoamento do rio – A terceira ação para reduzir o impacto das chuvas seria melhorar o escoamento dos rios e canais. “Obras de prevenção, como contenção de encostas, não são caras, mas, politicamente, talvez não sejam tão interessantes”, diz o professor Dickran Berian, da Universidade de Brasília.
Foi com obras assim que Belo Horizonte, uma metrópole espremida nas montanhas, conseguiu reduzir o impacto das enchentes. A cidade é cortada em 37 quilômetros pelo Ribeirão Arrudas, que recebe boa parte dos mais de 700 quilômetros de outros cursos d’água canalizados ou soterrados por ruas e avenidas. No verão de 1977, 17 pessoas morreram. Em 2002, foram 16 mortos. Para combater isso, foram feitas obras de retificação, alargamento e canalização do Arrudas. Na região central, a obra terminou no ano passado. São Paulo também agiu. Uma das maiores obras do mundo para reduzir enchentes foi feita no Tietê, que corta a região central da cidade. O município tem 3.200 quilômetros de rios e córregos. A maioria deságua no Tietê. As enchentes são um problema desde o século XIX. Foram agravadas com a construção das avenidas marginais, que acompanham o rio. O transbordamento do rio virou símbolo do descaso do poder público. Mas entre 2001 e 2006 o governo aprofundou o leito do rio entre 2,5 metros e 10 metros em alguns trechos e o alargou de 26 metros para 46 metros em outros. Custou mais de R$ 1 bilhão. A obra não evitou uma enchente em 2005, após a maior pancada de chuva desde 1943. Mas praticamente acabou com os transbordamentos nos outros verões.
4 Monitorar as populações de risco – É o que já fazem algumas cidades. Em Belo Horizonte, obras de contenção de encosta reduziram o número de famílias em zonas de risco de 15 mil, em 1994, para cerca de 6 mil, em 2008. Além disso, foram criados 50 núcleos com 500 voluntários treinados. Eles se reúnem antes da estação chuvosa para planejar o trabalho. Essa rede de prevenção custa R$ 15 milhões por ano. “É fundamental organizar a Defesa Civil a partir das comunidades”, diz Cláudio Vinícius Leite, diretor-presidente da Cia. Urbanizadora de Belo Horizonte. Desde 2003 não há uma só morte por deslizamento nas áreas monitoradas.
No Rio de Janeiro, o governo estadual gasta cerca de R$ 15 milhões por ano em contenção de encostas na cidade. Mas estima-se que 1 milhão de pessoas morem em áreas de risco, boa parte em favelas ou bairros irregulares. Para reduzir os danos, há 12 anos o Alerta Rio, da Prefeitura, monitora a aproximação de chuvas, mede o índice pluviométrico por área da cidade, calcula o grau de saturação do solo encharcado. Com isso, sabe-se qual o ponto em que ele não absorve mais água e fica sujeito a deslizamento. Em caso de risco de desabamento, as pessoas são avisadas por e-mail, telefone, fax ou mensagem de texto por celular. A Defesa Civil tem uma espécie de infra-estrutura de emergência em modo de espera, composta de fornecedores de mercadorias, igrejas e abrigos permanentes, além de voluntários para socorrer os desabrigados.
Nenhuma obra bilionária ou investimento anual em contenção de encosta vai evitar desastres naturais. Chuvas fora do padrão acontecem regularmente. Isso não justifica a inação. Há milhares de anos, as primeiras sociedades humanas temiam as intempéries. Julgavam-se à mercê da vontade de deuses da chuva e de outras forças da natureza. Hoje, os conhecimentos técnicos e até a experiência brasileira em lidar com chuvas não justificam a falta de prevenção. Nas próximas semanas, Santa Catarina receberá ajuda humanitária e financeira. Para os próximos anos, no entanto, o Estado vai exigir investimento para poupar a população de uma nova calamidade.
2 Regularizar a ocupação dos morros – O que aumentou as perdas de vidas e danos materiais foram construções em áreas de encostas perigosas. “Essas obras criaram um efeito duplo. Aumentaram o desmatamento e colocaram as pessoas em zonas de risco”.
3 Aumentar o escoamento do rio – A terceira ação para reduzir o impacto das chuvas seria melhorar o escoamento dos rios e canais. “Obras de prevenção, como contenção de encostas, não são caras, mas, politicamente, talvez não sejam tão interessantes”, diz o professor Dickran Berian, da Universidade de Brasília.
Foi com obras assim que Belo Horizonte, uma metrópole espremida nas montanhas, conseguiu reduzir o impacto das enchentes. A cidade é cortada em 37 quilômetros pelo Ribeirão Arrudas, que recebe boa parte dos mais de 700 quilômetros de outros cursos d’água canalizados ou soterrados por ruas e avenidas. No verão de 1977, 17 pessoas morreram. Em 2002, foram 16 mortos. Para combater isso, foram feitas obras de retificação, alargamento e canalização do Arrudas. Na região central, a obra terminou no ano passado. São Paulo também agiu. Uma das maiores obras do mundo para reduzir enchentes foi feita no Tietê, que corta a região central da cidade. O município tem 3.200 quilômetros de rios e córregos. A maioria deságua no Tietê. As enchentes são um problema desde o século XIX. Foram agravadas com a construção das avenidas marginais, que acompanham o rio. O transbordamento do rio virou símbolo do descaso do poder público. Mas entre 2001 e 2006 o governo aprofundou o leito do rio entre 2,5 metros e 10 metros em alguns trechos e o alargou de 26 metros para 46 metros em outros. Custou mais de R$ 1 bilhão. A obra não evitou uma enchente em 2005, após a maior pancada de chuva desde 1943. Mas praticamente acabou com os transbordamentos nos outros verões.
4 Monitorar as populações de risco – É o que já fazem algumas cidades. Em Belo Horizonte, obras de contenção de encosta reduziram o número de famílias em zonas de risco de 15 mil, em 1994, para cerca de 6 mil, em 2008. Além disso, foram criados 50 núcleos com 500 voluntários treinados. Eles se reúnem antes da estação chuvosa para planejar o trabalho. Essa rede de prevenção custa R$ 15 milhões por ano. “É fundamental organizar a Defesa Civil a partir das comunidades”, diz Cláudio Vinícius Leite, diretor-presidente da Cia. Urbanizadora de Belo Horizonte. Desde 2003 não há uma só morte por deslizamento nas áreas monitoradas.
No Rio de Janeiro, o governo estadual gasta cerca de R$ 15 milhões por ano em contenção de encostas na cidade. Mas estima-se que 1 milhão de pessoas morem em áreas de risco, boa parte em favelas ou bairros irregulares. Para reduzir os danos, há 12 anos o Alerta Rio, da Prefeitura, monitora a aproximação de chuvas, mede o índice pluviométrico por área da cidade, calcula o grau de saturação do solo encharcado. Com isso, sabe-se qual o ponto em que ele não absorve mais água e fica sujeito a deslizamento. Em caso de risco de desabamento, as pessoas são avisadas por e-mail, telefone, fax ou mensagem de texto por celular. A Defesa Civil tem uma espécie de infra-estrutura de emergência em modo de espera, composta de fornecedores de mercadorias, igrejas e abrigos permanentes, além de voluntários para socorrer os desabrigados.
Nenhuma obra bilionária ou investimento anual em contenção de encosta vai evitar desastres naturais. Chuvas fora do padrão acontecem regularmente. Isso não justifica a inação. Há milhares de anos, as primeiras sociedades humanas temiam as intempéries. Julgavam-se à mercê da vontade de deuses da chuva e de outras forças da natureza. Hoje, os conhecimentos técnicos e até a experiência brasileira em lidar com chuvas não justificam a falta de prevenção. Nas próximas semanas, Santa Catarina receberá ajuda humanitária e financeira. Para os próximos anos, no entanto, o Estado vai exigir investimento para poupar a população de uma nova calamidade.
Fonte: Revista Época 28/11/2008 - 20:39 - Atualizado em 23/04/2009
OBS.: Foram tirados trechos da entrevista da Revista Época.
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