segunda-feira, 25 de abril de 2016

Aulas temáticas no Engenho Massangana

A partir deste mês, engenho histórico, no Cabo, tem novo modelo de visitação para educadores e estudantes.


 Clemilson Campos/Folha de Pernambuco
A sala da Casa-Grande retrata trechos do livro Minha Formação de Joaquim Nabuco
Logo atrás da porteira, uma viagem ao encontro do passado. A pouco mais de 40 km do Recife, no município do Cabo de Santo Agostinho, as memórias de luta e resistência pelo fim da escravidão ainda seguem de pé. Na Casa-Grande do século 19, abarrotada de lembranças, viveu Joaquim Nabuco, considerado uma figura-chave para a transformação da história. É o Engenho Massangana, onde correntes e senzalas já não existem. Hoje, natureza e cultura seguem em convivência harmoniosa, em uma área de cerca de 10 hectares. O rio que por ali passava, não respira como antes. O fôlego parece transferido para o conjunto arquitetônico, que hoje conta a narrativa para os visitantes que deixam a rodovia PE-60 para desbravar o lugar. É uma aula sobre um Pernambuco que poucos conhecem.

Para ter acesso a essa riqueza, a partir deste mês, a visitação ao espaço terá um novo formato. Educadores e estudantes poderão agendar visitas específicas obre temas diversos, entre eles mobilidade social, abolicionismo e cultura açucareira. Durante um ano e meio, uma equipe de 11 profissionais foi treinada para receber os grupos. “Não queremos que o conhecimento do aluno seja superficial. Nesse novo esquema, o professor vai primeiro ao engenho, define o tema junto com os monitores e leva para sala de aula. Após a discussão com os estudantes é que eles visitarão o local”, explica a coordenadora educativa do espaço, Edna Silva.
    Visto como um dos mais importantes intelectuais brasileiros, Nabuco passou a infância no Massangana, onde conheceu a realidade dos negros e se sensibilizou. Ele foi criado pela madrinha, Ana Rosa, considerada progressista, à época, por administrar sozinha a propriedade. Para além das brutas paredes, o casarão de cerca de 800 metros quadrados traz móveis, quadros, louças e demais elementos para recriar os costumes da época. “O escritor comenta em seus livros sobre o sentar à mesa longa, com muitas cadeiras. Era o reduto para o jogo de cartas, fazer as refeições ou para tomada de grandes decisões”, detalhou Silva. Todo o espaço foi transformado em uma espécie de museu, com uma exposição permanente e recursos multimídia. “São elementos que trazem retratos fieis e chamam a atenção de crianças e adultos. Temos um resgate de nossa identidade”, acrescentou.

    Embarque em uma viagem ao século 19 no Engenho Massangana
    Na vila, vizinha a propriedade, cenas de um cotidiano simples e bucólico. Na estrada de barro, moradias com meia-porta, telhado baixo e, em sua maioria, desprovidas de muros. Cocheiras são elementares para ter os animais logo à porta. Como em uma pintura, crianças brincam no quintal, enquanto as mães estendem a roupa lavada no tanque. A descrição destoa do ritmo frenético do polo de Suape, a poucos metros dali. O historiador José Luiz Mota Menezes explica um pouco das transformações vivenciadas no lugarejo. “Nabuco nasceu no Recife, em 1849, em um sobrado na rua da Imperatriz, hoje tomada pelo comércio. Mas, foi no Cabo onde deus os primeiros passos para a missão política e social que o aguardava”, disse. Segundo Menezes, naquela época, os senhores de engenho detinham todo poder e bloqueavam qualquer forma de avanço. “Apesar de a realidade já ser outra, por ali ainda moram muitos operários e agricultores”, comentou.

    Ao subir os degraus da casa-mestre, no Massangana, a sala de estar é enigmática. Uma das peças logo à entrada é a conversadeira, um formato peculiar de cadeiras em semicírculo, capaz de permitir uma conversa mais íntima, ao pé do ouvido. “É curioso e sugere o desenho do namoro entre homens e mulheres de famílias de renome. Acho que não podiam avançar o sinal”, brinca Edna. Circulando, encontra-se um relógio de pêndulo e uma cristaleira. No quarto, mais adiante, a cama em madeira tibiriçá encena o local de repouso do abolicionista e amante dos livros, Nabuco. Por lá, também há espaço para um baú de roupas e pertences pessoais. Logo ao canto, um vaso e bacia para o lavar das mãos, além do espaço para guardar um penico. “Tudo foi alvo de muita pesquisa. Nossa preocupação está em naturalizar ao máximo”, diz a coordenadora. Uma pesada mesa em ferro é a peça remanescente daquele tempo, integrando os elementos que, junto às construções, são tombados como patrimônio pelo Estado.
    A trilha é feita ao som do canto dos pássaros e cigarras. Passando pela imensa moenda em madeira, a almanjarra, o público pode caminhar em direção a Capela de São Mateus. Na parte mais alta do terreno, a bela igreja com paredes brancas remete à paz. Foi no templo intimista, que já passou por algumas restaurações, onde Joaquim Nabuco foi batizado, segundo as tradições católicas. Missas e quermesses acontecem esporadicamente e são abertas a comunidade. “Nessa janela existem indícios de que esteja o túmulo da sua madrinha, além de outros sepulcros de parentes. Vemos a estrutura feita com óleo de baleia, típica da arquitetura daquele século” explica Igor Amarante, um dos mediadores. A tradição do lugar convida a subir a escada até o coro, onde a nobreza tinha assento. Na antissala, está a dupla de sinos em bronze. “As pessoas vêm aqui e tocam três vezes, fazendo pedidos. É certeza de realização”, revela o guia.

    Fonte:http://www3.folhape.com.br/cms/opencms/folhape/pt/cotidiano/noticias/arqs/2016/04/0441.html

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