segunda-feira, 6 de junho de 2016

Lucas, o treinador de aves

Jovem, hoje aos 21 anos, começou aos 11 a cuidar e tratar os pássaros para devolvê-los à natureza


Jaquelina Costa/Cortesia
No Dia Mundial do Meio Ambiente, a história do jovem que se dedica aos pássaros feridos é um exemplo
Na natureza, elas arrebatam suas presas com violência. Mas nas mãos de Lucas Cabral, 21, as aves de rapina demonstram afabilidade. Não é à toa. Os animais têm poucas pessoas em quem acreditar.

    Para conseguir a confiança deles, Cabral os reabilita desde os 11 anos. Gaviões, águias, carcarás, corujas. Várias espécies passam pelas mãos cuidadosas do jovem, que já devolveu mais de 20 aves ao habitat natural. Uma demonstração de que todos podem fazer algo para preservar a biodiversidade. Atitude que pode ser iniciada hoje, Dia Mundial do Meio ambiente.

    Jaquelina Costa/Cortesia
    A prática foi herdada do tio, que também amava os animais
    “Esse amor que tenho pelos animais veio com o exemplo de meu tio. Ele trabalhava em um zoológico e cuidava dos animais com muito carinho. O acompanhava e ficava atento ao que fazia”, conta o jovem, que cursa Medicina Veterinária na Univasf, em Petrolina, Sertão.

    O amor pelas aves de rapina vem de família. Mas se fortificou quando ganhou, ainda na infância, um filhote de gavião com poucos dias de vida. Machucado. Falco, apelido carinhoso dado ao animal, não tinha forças para voar. Com muita dedicação, Cabral passou a acompanhar o desenvolvimento do animal, dando todos os mimos e cuidados que precisava.
    O quintal da casa serviu como o primeiro campo de treinamento. “Falco tinha direito a codornas e ratos que eu comprava na feirinha. O peguei com 45 dias de vida. Ficamos juntos até ele completar 1 ano e meio de idade”, relembra.
    A ave não está mais com Cabral, mas deixou uma herança: despertou nele a vontade de estudar técnicas de falcoaria - arte de criar, cuidar e treinar falcões e aves de rapina para a caça de pássaros e pequenos vertebrados.
    Estudo
    Cabral tomou tanto gosto pela área que hoje sai diariamente de sua casa, em Juazeiro, na Bahia, com destino a Petrolina, em Pernambuco, para estudar Medicina Veterinária na Univasf. É lá, em Petrolina, que ele também pratica tudo o que aprende na faculdade. Já não é mais aquele quintal da casa onde Cabral começou, mas uma área verde pouco maior que um campo de futebol inserida no Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna Caatinga), criado há cerca de dez anos pela Univasf.

    O lugar serve de espaço para reabilitar aves que muitas vezes chegam machucadas ou até mesmo aquelas que se desenvolveram em cativeiro e, por isso, ficam com a musculatura atrofiada para voo e perdem a habilidade de caça para sua sobrevivência. “O trabalho desenvolvido no Cemafauna, além de ter o cunho educativo por promover a conscientização ambiental, tem também o intuito de fazer com que as aves retomem seu papel na natureza”, explica. Até abril passado, mais de 130 mil animais foram resgatados e 113 mil devolvidos à natureza.
    Controle
    Segundo o estudante, a prática da falcoaria contribui para o controle de fauna nociva (animais que interagem de forma negativa com a população humana) em áreas aeroportuárias e agrícolas, evitando acidentes e a caça ilegal de outros animais. “Não se pode matar os animais que estão nessas áreas, muito menos afugentá-los porque acostumarão com isso. O ideal mesmo é treinar uma ave de rapina para capturá-los e assim as aves entenderão que há um predador naquele local e com certeza partirão”, lembra.

    Cerca de 10% dos acidentes aéreos ocorridos no Brasil vêm de colisão entre aeronaves, obstáculos e pássaros, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).
    Técnica 
    O Lure Fly (isca aérea) é uma das ténicas utilizadas pelo estudante. Orgulhoso, ele conta que todo falcoeiro deve carregar consigo seu lure todas às vezes em que for levar sua ave para voar.

    “É um treinamento bastante intenso para a ave para que ela mantenha uma musculatura desenvolvida, permitindo que o animal faça capturas longas e difíceis”, descreveu, ressaltando que a principal função do lure não é apenas exercitar o falcão. “Mas, resgatar a ave quando ela se encontra em situações indesejadas”, acrescenta.

    Fonte:http://www.folhape.com.br/cotidiano/2016/6/lucas-o-treinador-de-aves-0074.html

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