quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Presidiário é exemplo de superação


Por Isabella Fabrício
Da Folha de Pernambuco

Henryton Klystenes Ribeiro Bezerra, 24 anos, poderia chamar atenção das pessoas apenas pelo nome exótico, mas apesar de jovem a escolha feita para sua vida é que se destaca. Na última segunda-feira, ele recebeu uma das melhores notícias de sua vida. Ele foi aprovado no Sistema de Seleção Unificada (SiSU), com a nota 698, em primeiro lugar entre os apenados do sistema carcerário de Pernambuco que fizeram a inscrição e o sétimo colocado geral no curso de Licenciatura em Matemática, da Universidade Rural Federal de Pernambuco (UFRPE). Até agora tudo seria comum. Tudo, se Henry, como é chamado carinhosamente pelos amigos, não fosse um dos 2,5 mil detentos do Presídio de Igarassu, localizado na cidade do mesmo nome.

Recluso há seis meses onde cumpre pena por assalto, cometido no município de Aliança, ele se destaca no meio da população carcerária pelo bom comportamento, que o levou a trabalhar na secretaria da unidade. Em 2012 a convocação feita pela diretora da Escola Dom Helder Camara, Vilma Marques, cuja unidade funciona dentro da unidade prisional, para formar um grupo de estudo preparatório para a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), reascendeu em Henry a vontade de tentar uma vaga na universidade. “Fizemos um grupo de estudos e cada um ensinava a matéria que tinha mais afinidade. Eu sempre gostei muito de matemática e dava aula de reforço no meu bairro”. A nota de Henry também dava para entrar no curso de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba, mas ele preferiu a licenciatura.

Ele conta que a rotina na prisão é parecida do que ele chama de “a vida lá fora” e que disciplina é essencial para conseguir o objetivo. “De segunda a sexta trabalho das 8h às 16h. E durante a preparação para as provas nos reuníamos das 17h às 20h30, de segunda a sábado religiosamente, só não estudávamos no domingo, devido à visita e para descansar também”, conta. A empolgação do grupo fez com que a diretoria fosse buscar material para dinamizar os estudos. Além de abrir as portas da biblioteca da escola prisional também foram dados vídeos-aulas e provas anteriores do exame.

Dos 17 detentos que participaram do grupo de estudos, todos foram aprovados no Enem, oito obtiveram nota suficiente para participar do Programa Universidade Para Todos (Prouni), e outro está esperando ser chamado na segunda classificação do SiSU. A boa performance rendeu ao grupo uma premiação dada pelo diretor do presídio, Carlos Cordeiro.

As aulas de Henry só começam no segundo semestre e provavelmente ele estará livre. “Em abril sai minha sentença para o regime aberto. E quando sair daqui meu único foco será os estudos”, garantiu. Em relação ao preconceito que pode sofrer por ser ex-presidiário ele diz estar preparado. “Eu sei que posso sofrer preconceito quando sair daqui, mas queria que as pessoas entendessem que cometi um erro, como muitas pessoas cometem, mas que o fato de estar aqui eu já estou pagando pelo erro. Com os meus estudos quero servir de exemplo”, enfatizou.

Na unidade prisional, nas horas vagas ele se diverte realizando cálculos, lendo livros e estudando línguas. Henryton aprendeu sozinho, inglês, espanhol, francês, alemão e tcheco, habilidades confirmadas pela diretora da escola do presídio. Quando acabar a graduação ele pretende fazer mestrado e um concurso público para agente prisional e trabalhar no local onde cumpriu pena. “A sociedade não deve desacreditar na capacidade de recuperação e arrependimento de um detento. Todos estão aptos a ressocialização. E caso eu sofra algum preconceito eu vou superar e não vou perder meu foco”, finalizou.


Fonte:http://www.folhape.com.br/blogdafolha/?p=73112

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