sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ex-major confirma nomes de beneficiados pela ditadura



(Foto: Eduardo Claudino/Divulgação)












AE – Um dos símbolos vivos da repressão em Pernambuco, o ex-major da Polícia Militar, José Ferreira dos Anjos, informou nesta quinta-feira (20), em depoimento à Comissão Estadual da Verdade, o nome de dois empresários que integraram o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e foram beneficiados financeiramente pelas relações que mantinham com o poder.

Roberto Souza Leão, já falecido, foi, segundo o ex-major, beneficiado com a aprovação de um projeto para implantação de uma destilaria de álcool na Bahia aprovada pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) por interferência do ex-presidente general João Figueiredo. “Foi quando ele endinheirou-se, mas a destilaria nunca existiu”, afirmou o depoente ao lembrar que o projeto não saiu do papel. O bom relacionamento de Souza Leão com o ex-presidente se devia à admiração de ambos por cavalos. O pernambucano tinha criação de cavalos de raça.

O segundo integrante do CCC confirmado por Ferreira foi “Biu do Álcool”, compadre do general Antonio Bandeira, que comandou o III Exército. Biu do Álcool era assim conhecido por contrabandear o produto. A atividade ilícita nunca lhe trouxe problemas devido à proteção militar.

Convocado pelo Exército, em 1969, para atuar na repressão aos opositores do golpe militar de 1964, Ferreira destacou que “os oficiais recrutados para trabalhar no Doi-Codi (órgão de inteligência subordinado ao Exército) sabiam que era para matar ou morrer”. “O clima era de terror e de guerra”, observou, ao negar, no entanto, ter atuado no órgão. Segundo ele, a maioria dos oficiais convocados para o órgão era da Polícia Federal.

“O ex-major Ferreira trouxe informações preciosas sobre o modus operandi do regime militar na época da ditadura”, avaliou o advogado e ex-deputado estadual Pedro Eurico, que integra a Comissão Estadual da Verdade. “Ele esclareceu que o comando no Doi-Codi era feito diretamente por oficiais do Exército, além de esclarecer a relação siamesa de grupos paramilitares com os órgãos de repressão, incluindo vantagens financeiras”.


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