quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Documentos inocentam acusados de atentado

Por Diogo Monteiro
Da Folha de Pernambuco

Duas verdades históricas sobre fatos acontecidos em Pernambuco durante o regime militar ganharam ontem caráter oficial. A Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Câmara (CEVDHC) apresentou ontem documentos confidenciais da própria ditadura que inocentam o ex-deputado federal Ricardo Zarattini e o engenheiro Ednaldo Miranda da autoria do atentado a bomba no Aeroporto internacional dos Guararapes, ocorrido em 24 de julho de 1966. Também foi entregue uma certidão de óbito, retificada por decisão judicial, apontando a morte do estudante Odijas Carvalho de Souza, em 1971, como resultado de tortura na sede do Dops, no Recife. A documentação foi repassada a vítimas e parentes pelo governador Eduardo Campos (PSB).

O atentado do aeroporto visava, supostamente, a atingir o general Arthur da Costa e Silva, então candidato a presidente, que chegaria à capital de avião, vindo de João Pessoa (PB). O militar, no entanto, decidiu vir de carro ao Recife. A explosão matou duas pessoas e feriu outras 14. O material entregue a Zarattini e a Emília Miranda, filha de Ednaldo, reproduz documentos sigilosos dos ministérios da Aeronáutica e do Exército, além da Seção de Polícia de Segurança do Rio de Janeiro, datados de 1970, mostrando que uma investigação do Centro de Informações da Marinha (Cenimar) já naquele ano apontava como verdadeiro autor do atentado Raimundo Gonçalves de Figueiredo, militante da Ação Popular, em uma ação isolada. “Por este motivo, inclusive, Raimundo foi expulso do Partido (Comunista do Brasil) ainda em 1966”, informa o ofício da Marinha.

Zarattini, que se encontrava em São Paulo no dia, acredita que a acusação recaiu sobre ele e Ednaldo (falecido em 1997) como “vingança” pelo trabalho de mobilização política que ambos faziam com trabalhadores da zona canavieira. “Eu e Ednaldo (presos em 1968 e levados ao Dops e depois ao quartel Dias Cardoso) sofremos torturas para confessar um crime que não cometemos”, lembrou o ex-deputado, que agradeceu ao colegiado e ao governador, lembrando que a Comissão Estadual da Verdade é a única do País criada através de projeto de lei, de autoria do Executivo.

Filha de Ednaldo, Emília Miranda recebeu a documentação e lembrou que, quando em 1995 uma reportagem impressa mostrava pela primeira vez a outra versão, o pai enviou a vários amigos cópias de sua foto, que ilustrava a matéria com uma citação atribuída a Caetano Veloso: “É impressionante a força que as coisas têm, quando elas têm que acontecer”.


Fonte:http://www.folhape.com.br/blogdafolha/?p=142246

Nenhum comentário :

Postar um comentário