Pesquisa aponta que 115,4 milhões de pessoas no Mundo terão a doença até 2050
Leo Motta/Folha de Pernambuco
Família do aposentado Inaldo Oliveira, 82 anos, foi surpreendida pelo diagnóstico positivo
Há seis anos a família do aposentado Inaldo da Silva Oliveira, 82 anos, foi surpreendida com a mudança em seu comportamento. Dócil, tornou-se agressivo, impaciente. Começou a esconder dinheiro e passou a não contribuir com as despesas de casa. A mudança deixou sua esposa enciumada. Pensou que estivesse com uma amante. A filha, a pedagoga Flávia Ramôa, 46, decidiu segui-lo. O que descobriu chocou a todos: Inaldo estava perdendo a memória. Logo veio o diagnóstico: estava com Alzheimer.
O aposentado está entre as 35,6 milhões de pessoas em todo o Mundo que foram acometidas com a demência, que é a mais comum do planeta. Um mal que segue avançando. Estudos internacionais apontam que serão mais de 115 milhões de doentes até 2050. Dados que podem ser amenizados com mudanças de hábitos como sair do sedentarismo e boa alimentação.
No caso de Inaldo, pequenos sinais foram chamando a atenção da família. “Mamãe começou a reclamar, pois ele ia receber dinheiro e voltava sem nada, só com o cartão. O segui. Ele entrou na agência, sacou dinheiro e saiu. Na porta tinha um rapaz vendendo castanha. Ele deu o dinheiro ao rapaz para ‘guardar’. O vendedor contou que ele já tinha feito isso várias vezes”, recorda Flávia, que teve outra surpresa ao se aproximar de Inaldo: ele não a reconheceu. “Com muita calma, o peguei pela mão e o levei para um restaurante perto. Mas ele estava muito nervoso. Parecia que eu ia roubá-lo. Foi difícil.”
Esse foi o marco divisor na vida da família, que ainda teve vários outros percalços pela frente com a doença. Junto com o diagnóstico, o paciente exigia cada vez mais cuidados. Sem segurança para cuidar de Inaldo, a família decidiu por uma nova moradia para ele: um lar de idosos a poucos metros da casa de Flávia e onde o aposentado tem assistência 24 horas.
Projeção
A previsão é que o número de doentes chegue a 65,7 milhões em 2030 e a 115,4 milhões em 2050. A doença não tem cura até então e é progressiva. “Todo mundo vai ter Alzheimer, a não ser que morra antes. Todo mundo tem risco. A idade é o fator de risco mais fiel. Quanto mais velho, mais risco se tem”, afirmou o neurologista Paulo Brito, um dos maiores especialistas mundiais de estudos do Alzheimer. A literatura médica elenca, além da idade, fatores genéticos que podem predispor a enfermidade. Contudo, alguns gatilhos socioculturais importantes podem “acordar” a doença que estava guardada na cabeça do paciente por décadas.
“Diabetes, pressão alta, colesterol elevado, vida sedentária, alimentação errada são fatores socioculturais que interferem no andamento do envelhecimento das pessoas”, alertou o médico. Essas comorbidades e maus hábitos antecipam a demência. Brito contou que quase 50% das pessoas com diagnóstico de Alzheimer poderiam ter adiado. “Para se ter uma ideia, no estudo de necropsia que eu fiz, observei que 42% das pessoas que têm doença de Alzheimer confirmada, além da doença, tinham problema vascular, pressão alta, diabetes, colesterol elevado ou doenças circulatórias no cérebro. Essas doenças despertam, acordam a doença de Alzheimer que já está ali guardadas a 20, 30 anos”, explica. Para o especialista, políticas públicas que garantissem o acompanhamento terapêutico eficaz dessas doenças relacionadas, uma boa alimentação, atividade física e equilíbrio emocional podem miminizar danos sociais futuros.
Coringas
Paulo Brito elenca alguns coringas para postergar a doença de Alzheimer. Ele destacou que pessoas que têm uma atividade física regular de, no mínimo, três vezes por semana e durante 40 minutos ficam mais protegidas. Já com relação à alimentação, outras investigações com pacientes diagnosticados mostram um ganho de qualidade de vida quando administrados medicações com base alimentar. O grupo (que tinha Alzheimer, mas não havia desenvolvido demência) que foi testado com essa substância apresentou melhora geral após três meses.
A condição nutricional da pessoa, desde a gravidez, por exemplo, pode ter influência sobre a enfermidade na velhice, assim como as condições psicológicas e emocionais de cada um. Outra dica é exercitar a mente e expandir a capacidade intelectual para fortalecer o cérebro.
Doença x demência
O neurologista explica que a doença de Alzheimer está guardada dentro da cabeça. É a patologia. Existe na pessoa por décadas antes de qualquer sintoma surgir. “Mas a partir do momento que a doença inicia, começa a se expressar por meio de falta de memória em 70% dos casos. Então, a pessoa passa a ter esquecimentos que ela não tinha antes”, detalha.
Quando o esquecimento se associa a outro sintoma, como por exemplo, dificuldade de falar - a pessoa quer dizer as coisas, mas não chega as palavras ou a pessoa vê um objeto e não identifica o nome de imediato.
Essa associação é que caracteriza a demência. Além da dificuldade de fala, pode ser a perda de noção de lugar e até de identidade.
Fonte:http://www.folhape.com.br/cotidiano/2016/5/alzheimer-sem-cura-mas-com-prevencao-0272.html
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