Por Diogo Monteiro
Da Folha de Pernambuco
Da Folha de Pernambuco
“Para as tradicionais instâncias partidárias, o que está acontecendo no Brasil é estranho, é alienígena. É Marte!”. A frase do ex-preso político Chico de Assis dá uma proporção da surpresa com que as recentes manifestações atingiram os partidos e analistas políticos brasileiros, que ainda tentam entender o processo que se iniciou na cidade de São Paulo e se espalhou pelo País. Um dos motivos que quebram a cabeça de alguns é a ausência de um foco nas demandas apresentadas pelos integrantes do protesto. Para se ter uma ideia, na página do Facebook que congrega os participantes do ato de hoje, no Recife, uma enquete que pergunta qual a principal reivindicação do movimento apresenta nada menos que 98 alternativas.
A Folha procurou pessoas que participaram de movimentações sociais em momentos-chave da nossa história para entender como eles veem os manifestantes e suas demandas. Chico de Assis, pernambucano que participou da luta contra o regime militar e por ele foi preso, se diz surpreendido positivamente pelas manifestações. Para ele, as demandas difusas podem ser uma dificuldade a ser vencida pelo movimento, mas fazem parte da sua própria característica.
“Agora, pode até ser benéfico. Essas manifestações não são produtos de um trabalho de organização, de um núcleo condutor. Elas colocaram os partidos à margem do processo, e estes estão se dando conta de como se distanciaram do processo social. Isso inclui todas as legendas, de Governo ou oposição”, avalia.
Fundador do PCBR, em 1968, o jornalista Marcelo Mário Melo, que garante presença no ato de hoje, no Recife, atribui a falta de foco ao “sabor de espontaneidade” de uma nova referência na manifestação das bases sociais. “Trata-se de um grande aprendizado. Todo esse movimento mostra que existe um enorme potencial de mobilização na sociedade e que a forma como os ‘acionistas majoritários do movimento popular’ têm atuado não atende a essa expectativa. Acredito que ao longo do tempo isso ganhe corpo em torno de grandes objetivos, de grandes reformas sociais”, prevê.
“O movimento que eu ajudei a organizar, entre 1966 e 1968, influenciado por uma vanguarda política, queria mudar o mundo. Estas manifestações de agora têm a perspectiva de mudar o cotidiano, o amanhã das pessoas”, diferencia o sociólogo José Arlindo Soares. Ele destaca que os protestos representam o acúmulo de diversas tensões urbanas, que se acumularam ao longo de anos e que explodiram sob o gatilho da questão do transporte, que atinge de alguma forma a grande maioria da população.
O advogado Aton Fon Filho, ex-integrante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), olha com desconfiança para as “causas genéricas” que se inseriram na pauta e identifica nelas uma “janela” para um ataque ao Governo Federal. “Quem não é ‘contra a corrupção’? Como se conclui que a corrupção foi vencida? A resposta que eles não dizem abertamente é: quando se derruba o Governo”, exemplifica.
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