Como o cereal se tornou alimento símbolo das festas de São João
Fotos: André Nery
O sexto mês do ano é, historicamente, conhecido por traduzir a alegria pela chegada da chuva em comidas saborosas
Fartura, prosperidade. De acordo com os estudos de simbologia,
são esses os significados dados ao milho. De fato, para as comunidades
do Interior de Pernambuco e outros estados do Nordeste, a espiga é a
representação exata de tal signo. Mas, justo nesse espaço de seca, seus
grãos amarelos eram muito mais; eram vistos como um sinal divino de
trégua na secura que pairava sobre a Região o ano inteiro e morria,
temporariamente, de março ao chamado ciclo junino, período que vai de 13
a 29 de junho. Era, portanto, um tempo de agradecimento, comemoração e
vida.
Apesar de hoje a festa ter perdido um pouco do sentido de celebração
religiosa, há algo que não mudou: a presença maciça das comidas típicas,
principalmente as preparadas com o milho. Neste ano, no entanto, a seca
atual, considerada a maior dos últimos 40 anos, pode amargar um pouco a
sempre rica mesa junina, já que a mão (50 unidades) está com o preço
nas alturas - cerca de R$ 30, na Ceasa. Nada que tire o brilho da festa,
porém, que movimenta a maior parte dos municípios pernambucanos, do
Recife a Petrolina.
Segundo Erick Buarque, especializado em Antropologia da Alimentação,
professor universitário e chef de cozinha, a simbologia do milho vai
mais além, remete à histórica mistura dos povos que se deu em território
brasileiro. “O conceito das festas juninas, das festas de santo, é
invenção dos portugueses. Isso vai ser trazido para cá e logo vai ser
adaptado. Já as receitas (de pamonha, canjica, munguzá, por exemplo)
surgiram das mãos das negras africanas, em meio à adaptação de pratos
portugueses. Inclusive com técnicas e introdução de elementos, como o
leite de coco. O produto vai ser apresentado pelos índios. É algo que
representa bem, simbolicamente, a nossa cultura, porque é a miscigenação
dos três povos”, explica o professor.
Fartura
Para um povo pobre, aquele do Agreste e Sertão pernambucano, que passava o ano inteiro com a fome na porta, as chuvas de março eram uma certeza: a safra do milho seria boa. E era justamente por isso que o Dia de São José, comemorado no décimo nono dia daquele mês, era (e continua sendo) um dia lendário. A superstição popular se afiava na crença de que, se chovesse no dia do santo, a safra do milho ia ser farta. Tal abundância poderia ser vista na mesa das festas de junho, três meses depois, que uniam a celebração aos santos (Santo Antônio, São João e São Pedro) e a comemoração da colheita.
Nas casas mais humildes, ou nas grandes festas de São João, a riqueza
podia ser vista na variedade de pratos de cor amarela, como pamonha,
cuscuz e canjica, todos preparados à base de milho. O amarelo remetia, é
claro, ao ouro. Eram joias na mesa, servidas aos convidados como
símbolo da fortuna (mesmo que temporária). Para reforçar a época de
bonança, surgiam à mesa receitas como pé-de-moleque e arroz-doce, que
não tinham o milho como ingrediente. “O milho é um produto cuja
representatividade é forte para a cultura interiorana. Ele evidencia a
mesa do agresteiro e do sertanejo porque trazia fartura. Economicamente,
ele trazia dinheiro. Era o momento de você ter exageros à mesa, já que,
durante o ano todo, tudo era muito apertado”, diz.
Segundo conta Erick Buarque, “aqui no Nordeste, a seca assolava e era uma dificuldade muito grande no transcorrer de todo o ano. Na época junina, o milho aparecia porque era a época de fertilidade. Isso era motivo de alegria, de riqueza”. “Muitas das grandes festas do Agreste e Sertão aconteciam no São João, quando circulava dinheiro. Era a época de celebrar a colheita, a lavoura, os santos, os grandes casamentos”, completa. A alimentação de subsistência, baseada em raízes, como mandioca, era substituída pelo milho na estação chuvosa. “Quando chegava junho, era motivo para comemorar. Esse período (de colheita) era capaz de gerar dinheiro para que se pudesse sobreviver durante vários meses”, explica o professor. Garantia de sobrevivência ou não, o ingrediente amarelo é o melhor representante da culinária junina, e, seja por motivo de agradecimento ou pura gula, é o ouro da gastronomia do nosso Interior, transbordando o calendário de fartura e delícia.
Segundo conta Erick Buarque, “aqui no Nordeste, a seca assolava e era uma dificuldade muito grande no transcorrer de todo o ano. Na época junina, o milho aparecia porque era a época de fertilidade. Isso era motivo de alegria, de riqueza”. “Muitas das grandes festas do Agreste e Sertão aconteciam no São João, quando circulava dinheiro. Era a época de celebrar a colheita, a lavoura, os santos, os grandes casamentos”, completa. A alimentação de subsistência, baseada em raízes, como mandioca, era substituída pelo milho na estação chuvosa. “Quando chegava junho, era motivo para comemorar. Esse período (de colheita) era capaz de gerar dinheiro para que se pudesse sobreviver durante vários meses”, explica o professor. Garantia de sobrevivência ou não, o ingrediente amarelo é o melhor representante da culinária junina, e, seja por motivo de agradecimento ou pura gula, é o ouro da gastronomia do nosso Interior, transbordando o calendário de fartura e delícia.
Fonte:http://www.folhape.com.br/cms/opencms/folhape/pt/cultura/sabores/arquivos/2011/outubro/0059.html
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