O artista plástico Abelardo da Hora faleceu na manhã desta terça-feira (23) no Recife, aos 90 anos. Ele passou cerca um mês internado no Hospital Memorial São José, devido a problemas respiratórios. Ele chegou a ter uma pequena melhora ontem, mas não resistiu a uma embolia pulmonar. A morte de um dos artistas de maior expressão do Estado foi lamentada por diversos políticos pernambucanos. A sua contribuição para a política também foi lembrada, com o ingresso no Partido Comunista e as dezenas de prisões durante a ditadura militar.
O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), decretou luto oficial de três dias em todo o Estado. O mesmo fez o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB).
Confira, abaixo, alguns depoimentos:
Senador Humberto Costa (PT):
“Foi com tristeza que recebi a informação do falecimento hoje do artista plástico Abelardo da Hora. Abelardo, além de um artista sem igual, ele era acima de tudo um amigo, um homem que sempre soube transmitir alegria e sabedoria. Foi mestre de toda uma geração de artistas pernambucanos e um dos criadores do Movimento de Cultura Popular, que tinha como objetivo expandir a arte popular e desenvolver um trabalho de educação para jovens e adultos.
Abelardo era um multiartista e um dos maiores nomes da arte do País. As suas pinturas, cerâmicas, poesias e gravuras são a expressão da sua história de luta por um mundo melhor e mais justo. Ainda jovem, ingressou no Partido Comunista e manteve a sua coerência política por toda a vida.
Durante a Ditadura Militar, foi detido por mais de 70 vezes e sua contribuição política e artística pode ser vista em todo o Recife”.
Governador João Lyra Neto (PSB):
“Perdemos mais um filho ilustre e um dos maiores nomes das artes brasileiras. Aos 90 anos, ainda lúcido e ativo, Abelardo da Hora continuava sua extensa obra iniciada desde os anos 1940, quando começou a moldar suas primeiras peças na Escola de Belas Artes do Recife. Sua obra se caracterizou com o compromisso com o povo: uma galeria de arte a céu aberto. Espalhou sua criatividade por ruas avenidas, prédios públicos, bancos, hotéis, hospitais e edifícios residenciais. Um arte feita com amor e paixão que fazem parte do cotidiano dos pernambucanos.
Abelardo da Hora deixa um legado também na militância política em favor dos mais pobres da nossa sociedade, causa que sempre se comprometeu, utilizando seu trabalho como forma de contribuição para a melhoria da sociedade. Um artista politicamente combativo e fortemente defensor do povo.
Com essa visão, na gestão do então prefeito do Recife, Miguel Arraes de Alencar, foi um dos idealizadores do Movimento de Cultura Popular (MCP), Nesta mesma época, fez 22 desenhos sobre a situação de miséria da cidade. Era o álbum “Meninos do Recife”, sobre a fome e a pobreza que esses meninos viviam. Preso pela ditadura mais de 70 vezes, teve os 500 exemplares desse álbum queimados e suas esculturas destruídas pelos militares, uma delas um monumento em homenagem às Ligas Camponesas, erguida no Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão.
Sua trajetória política sempre esteve ao lado da Frente Popular de Pernambuco, não só com Miguel Arraes, mas até os dias atuais, com seu neto, o ex-governador Eduardo Campos. Já neste governo, Abelardo foi convocado para deixar o seu talento nos três hospitais metropolitanos (Miguel Arraes, Dom Helder Câmara e Pelópidas da Silveira) construídos em Pernambuco, no período em que fui secretário de Saúde.
Sua última grande obra, a escultura em bronze polido “O Artilheiro” embeleza a Arena Pernambuco, entregue no dia do aniversário do artista, 31 de julho deste ano, em São Lourenço da Mata, onde Abelardo nasceu.
Decretei luto oficial de três dias no Estado. Pernambuco perdeu um dos seus maiores artistas, mas o povo pernambucano continuará sempre em contato com sua grandiosa obra”.
João Paulo (PT):
“Tive a oportunidade de me despedir do meu amigo e grande mestre Abelardo da Hora, no dia de seu aniversário, no dia 31 de julho. Foi um encontro alegre, como era o grande artista brasileiro, sempre atento e lúcido, nos seus 90 anos – 60 deles dedicados à escultura, ao desenho, à pintura, à poesia e à luta contra a opressão e a miséria. Abelardo era um artista do Brasil e de Pernambuco, mas universal em todos os sentidos. Suas mais de mil obras estão espalhadas pelo mundo, da Mongólia aos Estados Unidos. Mas o Recife é seu grande museu a céu aberto para deleite da população. Lembraremos dele por suas inúmeras esculturas em prédios, praças e parques. Uma das mais representativas está no Parque Dona Lindu, onde ele homenageia, em referência à mãe de um grande líder brasileiro, o ex-presidente Lula, a saga dos retirantes nordestinos.
Escultor, desenhista, gravador, gravurista e ceramista, Abelardo Germano da Hora era um dos raros expressionistas das artes plásticas brasileiras em plena atividade, até ser hospitalizado há poucos dias. Estará com todas as honras na história das artes e na história do Brasil, como artista de estupendo fôlego criativo e como lutador incansável da causa do povo e contra todas as ditaduras. Com tristeza e carinho, gostaria de transmitir meus pêsames à família de Abelardo, da qual me tornei amigo e também admirador”.
Prefeito Geraldo Julio (PSB):
“Abelardo se dizia um homem de coração recifense. Mas tinha o coração universal dos grandes mestres. Dos que vivem para encantar e fazer pensar. Eternamente inspirado na arte de inspirar, assim nos ensinou tanto. Inclusive a lutar. Abelardo atuou na gestão pública, enfrentou a ditadura, criou o Movimento de Cultura Popular. Por isso sua obra vai muito além da contemplação. É trabalho de raiz guerreira e inteira, tradução de sentimentos e necessidades. Coragem, senso de liberdade e generosidade fizeram de Abelardo um artista do povo, pelo povo, para todos”.
Senador Armando Monteiro Neto (PTB):
“Uma grande perda para Pernambuco. Um homem extraordinário, não só o artista, a figura múltipla como artista, mas muito engajado, muito participante de todas as causas de interesse de Pernambuco. Era uma figura humana muito querida por todos”.
Fonte:http://www.folhape.com.br/blogdafolha/?p=182417
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