segunda-feira, 30 de julho de 2012

“Equívoco será reparado pelas urnas”


(Foto: Gabi Albuquerque/Arquivo Folha)
Por Manoel Guimarães
Da Folha de Pernambuco


Certo da vitória do senador Humberto Costa, na disputa pela Prefeitura do Recife, o presidente estadual do PT, deputado Pedro Eugênio, garante que as urnas irão reparar o equívoco do PSB, que lançou Geraldo Julio, mesmo depois de o comando socialista ter afirmado que a aliança seria mantida na Capital. Esta decisão, segundo o petista, causou estranheza, principalmente depois que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) juntou-se à Frente Popular. Porém ele diz, nesta entrevista à Folha de Pernambuco, que não é motivo para rompimento entre os dois partidos, até porque há coligações entre PT e PSB espalhadas pelo Estado e não existe a intenção de entregar os cargos do Governo Estadual. Quanto ao prefeito João da Costa, Eugênio reconhece que o correligionário ainda não assmilou o fato de não poder concorrer à reeleição, contudo avalia que sua presença na campanha de Humberto somaria. O deputado também coloca que está dedicando mais tempo à sua candidatura majoritária em Ipojuca.

Presidente, PT e PSB estão em palanques opostos no Recife. Se o PT ganhar a eleição, convidará o PSB para voltar ao Governo Municipal ou passará a tratá-lo como partido adversário?

A postura do nosso partido deverá ser, e é até recomendável, que façamos uma ampla aliança, inclusive com aqueles partidos que conjunturalmente não estiveram conosco no governo. Evidentemente que o nosso prefeito terá o comando desse processo. Será uma avaliação de caso a caso dos partidos, com uma eventual não-participação não significando também rompimento. Será algo restrito à Prefeitura do Recife. Partidos que não estiveram com Humberto, participarem ou não do governo, essa será uma análise feita caso a caso. Mas eu entendo que quanto maior a amplitude da composição do governo, mesmo com partidos que não tenham estado conosco, é recomendável. Até porque são partidos que estão conosco no Governo do Estado e no Governo Dilma.

E se o PSB ganhar a eleição? Vocês seriam oposição?

Nós não iríamos procurar o PSB, mas tampouco iríamos dar as costas para uma administração que tem a ver com a nossa Frente. Nós, inclusive, não queremos considerar essa hipótese de derrota, porque entendemos que o quadro que está aí aponta fortemente para a nossa vitória. No campo da hipótese, tudo é possível, mas nós iríamos travar uma discussão normal com o PSB, sem procurá-los, porque não me parece que seja o caso de procurá-los. Eu acho que essa decisão do PSB de lançar uma candidatura foi açodada e equivocada. Lançar uma candidatura e agregar todas essas forças político-partidárias que têm um vínculo muito forte com o Governo do Estado, para nos fazer oposição, eu acho isso um equívoco histórico que será reparado pelas urnas. A nossa aliança fundamental é com a população. A população entende que os nossos governos têm sido capazes de inverter as prioridades da Cidade do Recife, fazendo administrações que têm como centro o bem-estar e governar para todos, mas sempre com o foco no atendimento das necessidades da maioria mais carente. Toda eleição é difícil, mas a gente tem dificuldade de imaginar que a população vá mudar de opinião em relação a quadros políticos que têm uma história tão bela, vitoriosa e comprometida com as lutas populares como têm os companheiros Humberto Costa e João Paulo. O candidato do Governo do Estado terá muito apoio político, e isso evidentemente vai contar na disputa.

O prefeito João da Costa ainda não assimilou a candidatura de Humberto. Como estão as costuras para trazê-lo para a campanha?

Temos uma chapa que é muito representativa da história do PT e da capacidade que as nossas gestões tiveram de se ligar à população de forma bastante forte. Não só nas gestões, mas também nas lutas encarnadas pelo partido nacionalmente, através dos governos de Lula e Dilma. Fica claro que a nossa chapa tem todas as condições de vencer a eleição, por conta dessa aliança com a população. Evidentemente que as alianças político-partidárias são importantes, e nesse sentido registramos o apoio à candidatura de Humberto e João Paulo de segmentos do partido que fizeram a pré-campanha de João da Costa, mas entenderam que o partido, neste momento, tem um candidato, tem uma decisão tomada e consolidada pelas instâncias partidárias, e que tem tudo para continuar a fazer cumprir os compromissos do PT com o povo do Recife. Nós queremos ter o nosso prefeito João da Costa conosco, sem dúvida nenhuma. Ele tem dito que precisa de mais tempo para refletir. Acho que devemos respeitá-lo e a todos aqueles que, em torno dele, estão com essa mesma posição de dar um certo tempo ao tempo. Pelo processo que foi vivido, é natural e compreensível que ele assim se coloque. Mas é importante que o partido como um todo, e eu especificamente como presidente do PT, coloque de público a importância que entendemos ser o apoio do prefeito. Soma e é positivo.

Mesmo ele estando mal avaliado?

A questão da avaliação poderia ser melhor, mas tampouco é uma avaliação que possa ser somada negativamente. Ele enfrentou muitos problemas, de dissidência ou de oposição interna em relação à administração dele, praticamente desde o começo da administração. Teve a questão da doença também. Isso tudo somou, e ele teve menos tempo para avançar, tanto que não logrou construir internamente no partido um consenso em torno de seu próprio nome. Mas eu tenho a avaliação, e muitos comigo a tem, de que o apoio de João da Costa soma, é um apoio positivo. A capacidade dele de lutar, de guerrear, de defender as suas ideias é inegável. Ele tem muitas realizações já feitas ou em curso para mostrar à população do Recife. O que o partido assistiu de divergência, que levou ao surgimento de mais de uma candidatura disputando, sempre teve a ver mais com uma avaliação política da dificuldade de construir em torno da candidatura que fosse a melhor, uma força política maior, do que propriamente uma avaliação de que a administração não deveria ter o apoio. A questão foi menos administrativa do que política.E agora me parece que tudo isso está superado. É o momento de juntarmos forças, até porque João da Costa tem um futuro importante de atuação política no PT, na minha avaliação.

A eleição do Recife parece ter ganho um caráter nacional, visto que, se o candidato do PSB ganhar no Recife, e o mesmo ocorrer em Fortaleza e Belo Horizonte, o governador Eduardo Campos se consolidaria como presidenciável e ameaçaria a reeleição de Dilma. O PT nacional delegou ao PT pernambucano a missão de barrar as pretensões do socialista?

A gente tem que pensar sempre pelo lado positivo. O lado positivo é que, independente do PSB, o PT deve fazer e está fazendo todos os esforços possíveis para crescer. Temos a Presidência da República, mas podemos avançar nos estados, quando for o momento das eleições governamentais, e nos municípios agora. Construimos uma prioridade nacional em torno das cidades com mais de 150 mil habitantes, para podermos acompanhar mais de perto isso. Além dessas cidades, nós temos em cada estado realidades específicas, que recomendam e apontam prioridades especiais. Chegamos a 49 candidaturas a prefeito e 23 a vice-prefeito do nosso partido em Pernambuco. Estamos aliados em 47 municípios com candidatos majoritários do PSB. Então, quando se fala que estamos rompidos com o PSB, não é verdade. Estamos apoiando o PSB em 47 municípios, num Estado que tem 184 municípios.

Mas a maioria dessas alianças ocorre em municípios pequenos. Há disputas entre PT e PSB em quase todos os municípios acima dos 100 mil habitantes em Pernambuco…

Mas veja que é um quadro diferente da relação com o PSDB, o PPS e o DEM. Falam que rompemos com a Frente. Estamos apoiando 15 candidatos a prefeito do PTB, 15 do PR, três do PCdoB, cinco do PSD, cinco do PDT, quatro do PP e dois do PRB, por exemplo. Isso mostra que temos uma relação muito mais forte com os partidos da base. É válido o PSB procurar crescer. Estranhamos no Recife, não porque o PSB tenha candidato, mas porque nós vínhamos construindo, de forma bastante conversada com o PSB, a manutenção de uma frente com todos os partidos. Tive a oportunidade de me reunir com o presidente estadual do PSB, Sileno Guedes, três dias antes de o governador tomar a decisão e anunciar a decisão de que estava exonerando os secretários para serem opções para candidatura. E naquela reunião, ele (Sileno) ainda dizia que independente do que acontecesse no PT, o PSB iria nos apoiar. Então, fomos rigorosamente tomados de surpresa. O fato de o PSB ter candidato nesse ou naquele município não tem problema, nos causou estranheza a forma com que tudo aconteceu. Da mesma forma que em Belo Horizonte, onde havia um acordo muito explícito com o PSB na formação da chapa de vereadores. E o PSB do prefeito Márcio Lacerda rompeu esse acordo, portanto, praticamente obrigou o PT a se afastar daquela coligação. Então, alguns acontecimentos desse tipo causam estresse, mas não justificariam o PSB se afastar do Governo Dilma, nem o PT se afastar do Governo Eduardo.

À boca miúda, corre a versão de que o PSB botou pilha para o PT brigar e se aproveitou da situação para lançar candidato no Recife…

Isso é algo que nós não temos como fazer esse tipo de acusação, de que teria havido algum tipo de manobra. Há quem levante essa hipótese, mas hipóteses que não se comprovam, do ponto de vista da relação política, não existem. Então, nós não vamos considerar essa hipótese como sendo algo que tenha tido a possibilidade de ter ocorrido. Não vamos considerar isso.

O PT de Pernambuco, que nunca tolerou Jarbas Vasconcelos (PMDB), focará na figura do senador, que hoje está no palanque do PSB?

A nossa estratégia de comunicação em relação a esse aspecto está sendo discutida pela equipe de comunicação de Humberto, e ela será explicitada no momento da campanha da televisão e do rádio. Agora, que é uma contradição, é. Até ontem, Jarbas fazia discursos duríssimos contra Eduardo Campos. Isso não esfriou ainda, saiu do forno há pouco tempo. Quem vai no Youtube pode encontrar declarações muito duras, muito críticas, que tornam incompreensível essa aliança. Qual é o objetivo disso aí? Esses contrários se reuniram com que objetivo? Me parece que é um equívoco ter se estabelecido essa aliança, que é algo contraditório, que não nos cabe explicar. Nós temos dificuldade de entender isso, portanto, cabe ao candidato do PSB dar essas explicações.

Como está se dividindo entre candidato a prefeito de Ipojuca e presidente estadual do PT?

Neste momento, em termos de tempo, estou mais dedicado a Ipojuca. É natural que um quadro político partidário, que tenha funções políticas no partido, possa num determinado momento da sua vida política decidir se engajar numa campanha majoritária. Nós temos a responsabilidade de estarmos na direção do partido, realizando as reuniões regulares da executiva, temos equipes que estão nos ajudando nesse sentido. Temos uma Comissão de Acompanhamento Eleitoral, que acompanha os municípios, e vamos estar presentes em alguns comícios, em alguns eventos mais importantes nas cidades mais estratégicas. Faremos isso, mas com o comedimento que minha candidatura em Ipojuca recomenda, pois temos uma missão importante e que avaliamos que tem condições objetivas de ser bem sucedida. Ipojuca é o segundo município em arrecadação, mas tem carências típicas de um município pobre. Problemas de esgoto a céu aberto, falta de abastecimento de água, educação e saúde. Estamos visitando as pessoas, vendo os problemas e buscando soluções. Mostrar à população que o ex-presidente Lula, que tanto fez pelo município, tem um candidato em Ipojuca e o povo de Ipojuca tem uma alternativa, é uma missão política muito importante. Então, eu como presidente do partido, dedicar a maior parte do meu tempo para essa disputa faz parte da prioridade partidária de nós estarmos presentes nas administrações municipais mais importantes do Estado e do Brasil.

Em caso de vitória no Recife, os dois maiores nomes do PT pernambucano, Humberto Costa e João Paulo, estariam na Prefeitura. Isso significa que o partido não lançaria candidato em 2014?

A eleição de 2014 é outra coisa. Vamos tratar de cada coisa a seu tempo. Sempre digo que, por mais conflito que possa existir, quando nós temos várias lideranças com perfis de ocupar um determinado cargo, é muito melhor do que ter apenas uma. Isso mostra que o partido é forte e tem lideranças expressivas. Estarão Humberto Costa na Prefeitura, João Paulo como vice. E aí nós temos a possibilidade de construirmos uma candidatura, que eu não vou adiantar qual deveria ser essa candidatura, pois não quero colocar o carro na frente dos bois. Não há acordo nem nada que já tenha sido pré-definido, mas evidentemente tanto João Paulo quanto Humberto, fora outros que possam surgir nesse tempo, são quadros que o PT tem para disputar o Governo do Estado. É recomendável que nós estejamos nessa disputa de 2014.



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