Por Amanda Claudino
Da Folha de Pernambuco
Da Folha de Pernambuco
Um estudo apresentado ontem pelo Centro de Pesquisa Aggeu Magalhaes/Fiocruz revelou que Goiana, na Zona da Mata Norte do Estado, não está pronta para receber os grandes investimentos que já estão se instalando por lá. Enquanto de um lado figuram os altos investimentos nos polos automotivo, farmacoquímico e vidreiro, faltam, no município, infraestrutura, educação e saúde. Além disso, existe a preocupação com o aumento da violência e da população com a chegada de trabalhadores até de outros estados. Prova de que, mesmo com os aportes de mais de R$ 8,3 bilhões capitaneados pela Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), Fiat e Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP), o desenvolvimento sustentável da região não está garantido.
A Análise Participativa da Realidade Socioambiental de Goiana, financiada pela Hemobrás, privilegiou duas das cinco dimensões do desenvolvimento sustentável: a Ambiental e a Sociocultural. Para ser feito, agregou técnicas formais com a participação dos atores sociais do município, entre empresas, gestão pública e a própria população – dividida em 13 núcleos territorias -, “valorizando a identidade cultural e socioambiental de cada uma”, explicou a coordenadora Geral da pesquisa, Tereza Lyra. “Estamos vivendo um momento de transição entre os conceitos de crescimento econômico e desenvolvimento sustentável. Não basta ter um PIB (Produto Interno Bruto) grande se a grande maioria das pessoas não compartilha disso”, avaliou a professora da Universidade Federal de Pernambuco e sócia da Ceplan, Tânia Bacelar.
Entre os dados destacados no estudo, há o fato de que, hoje, 46,9% da população goianense estão inscritos no Bolsa Família. O programa do Governo Federal é voltado para famílias com renda per capita de até R$ 140 por mês. Além disso, embora tenha sido reduzida de 34,6% para 18,3%, entre 1990 e 2010, a taxa de analfabetismo na cidade é quase o dobro da brasileira – 9,7%. Na Zona Rural de Goiana, o índice chega a 52%. O relatório ainda aponta que somente 24% dos domicílios têm rede de esgoto, e 60% despejam seus dejetos em fossas rudimentares. “São dois indicadores sociais que demonstram a pobreza na maior parte do município. É tão rico de um lado, com os investimentos, e tão pobre do outro”, ressaltou Tânia.
A população sente na pele o inchaço da cidade. Leni Maria do Nascimento, 41 anos, vive com o marido no assentamento Mussumbu desde 2002. Para sobreviver, participa do Bolsa Família e pratica a agricultura de subsistência. “Como agricultora, não recebemos auxílio do Governo. Além disso, não temos água encanada e precisamos tirar do rio que passa perto do assentamento. Não tem posto de saúde nem escola. A violência e o tráfico de drogas tem aumentado. Somos desprovidos de tudo”, contou. “A cidade está crescendo, mas não estamos preparados para receber esse povo”, opinou.
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