quarta-feira, 22 de maio de 2013

Material prova que Estado “sumiu” com ex-militantes


Por Alex Ribeiro
Da Folha de Pernambuco
A Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara apresentou, ontem, na sede da Secretaria Executiva de Justiça e Direitos Humanos do Estado, documentos inéditos, de caráter confidencial, tratando do caso do desaparecimento dos militantes comunistas Eduardo Collier e Fernando Santa Cruz. Segundo o colegiado, o material comprova que o Estado foi responsável pelo sumiço dos dois jovens. O caso deve ser retomado pela Comissão Interamericana, que teria trocado várias correspondências com o Governo Federal para saber do paradeiro dos dois militantes ainda na década de 1970.
Colegiado apresentou documentos inéditos e de caráter confidencial sobre o caso (Foto: Hesíodo Góes)

Na versão oficial, Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier foram presos no Rio de Janeiro, em 1974, pelo Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna DOI/CODI-RJ. No entanto, a nova documentação mostra que os militantes teriam sido presos por militares da Aeronáutica, para que entregassem o dirigente da Ação Popular Marxista-Leninista (APML) Jair Ferreira Pereira, conhecido como Dori, e sua companheira Doralina Rodrigues de Carvalho.

“Antes mesmo da prisão, Fernando já estava sendo investigado, tanto é que a nossa casa estava sendo mapeada. Levamos esse caso em junho de 1974 à Corte Interamericana. Essa documentação comprova que até 1980 existem registros sobre essa solicitação à Corte. Com esse fato novo, o caso deve ser reaberto”, afirmou o vereador de Olinda e irmão de Fernando Santa Cruz, Marcelo Santa Cruz (PT). Em 2011, a mãe de Fernando, Elzita Santa Cruz, visitou o Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e entregou uma procuração ao órgão para ajudar no caso. “Ela pediu nossa ajuda para reabrir o caso na Corte Interamericana. Agora, temos fortalecida essa ideia. Com a chegada da nova documentação, com os novos dados, podemos ajudar na investigação de Collier e Santa Cruz”, relatou o coordenador executivo do Gajop, Rodrigo Deodato.

De acordo com a prima de Eduardo Collier, Virginia Collier, as novas documentações apenas oficializam o que os familiares não tinham dúvida. “A dificuldade era essa (de comprovar a participação do Estado). E o mais importante disso tudo não é só o caráter histórico, é o compromisso forte que mostra como o processo de tortura é odioso”, comentou. Para o membro da Comissão Estadual da Verdade e relator do caso, Manoel Moraes, o material colabora para abertura de mais investigações sobre o desaparecimento dos militantes. “É uma data importante. Vamos poder avançar nos casos, principalmente com a ajuda dos órgãos internacionais”, ressaltou Moraes.


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