Por Raul Henry
Na semana passada, vivi uma experiência emocionante na cidade de Monterrey, no México.
A convite da Frente Hemisférica de Parlamentares pela Primeira Infância, viajei, em missão oficial, para discutir políticas de educação infantil na América Latina e conhecer a experiência das creches de Monterrey.
Apesar de já ter ouvido falar sobre a excelência desses centros de educação infantil, fiquei impressionado e comovido com o que vi: um médico exclusivo para as crianças, que são observadas por ele diariamente; um consultório odontológico também exclusivo para os alunos; uma psicóloga que acompanha o comportamento das crianças e identifica possíveis problemas cognitivos ou socioemocionais, inclusive dando assistência às famílias; uma cozinha com certificado ISO 9000 e gerenciada por três nutricionistas com formação superior; instalações como ludoteca, espaço para atividades esportivas, sala de informática e ambiente para atividades culturais, com equipamentos e limpeza impecáveis.
Não por acaso, na ocasião do evento, essa experiência foi premiada pela OCDE como o melhor programa de educação infantil do mundo. E estavam no páreo todos os países escandinavos, os maiores IDHs do planeta, e a Itália, cuja região de Reggio Emilia é a mais importante referência para os estudiosos do tema.
A iniciativa pioneira foi da ONG Terra e Libertà e hoje o México já conta com 100 desses centros de educação infantil.
Todas as pesquisas realizadas a partir da década de 1990, com a descoberta da tomografia computadorizada e da ressonância magnética, mostram que a fase mais importante para o desenvolvimento de uma pessoa é a sua primeira infância. É nessa fase que se formam as ligações entre os neurônios, criando os circuitos cerebrais que irão comandar as atividades intelectuais, emocionais e sociais do indivíduo para o resto da vida.
Há, inclusive, um trabalho clássico do economista norte americano James Heckman, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia, em que fica demonstrado que o melhor investimento que um governo pode fazer é na educação e nos cuidados com as crianças de 0 a 3 anos.
É verdade que o custo de um empreendimento como esse é elevado para o propósito de universalização imediata do modelo: U$8.800 por aluno/ano.
No Brasil, o financiamento da educação básica está no patamar de U$2.600 por aluno/ano. Mas o decrescente número de crianças que nascem todos os anos e o aumento das fontes de financiamento, como por exemplo os royalties do pré-sal, apontam para uma futura maior disponibilidade de recursos no país. Além disso, é necessário que o Governo Federal aumente sua participação no financiamento da educação básica. Apesar de ficar com aproximadamente 60% do bolo tributário total (os estados ficam com 25% e os municípios com 15%), o Ministério da Educação custeou apenas 22 bilhões de reais, enquanto os municípios arcaram com 87 bilhões e os estados com 85 bilhões, no ensino básico (dados de 2011).
O fato é que o México, um país com renda per capita semelhante à do Brasil (em torno de U$10.000) e menor carga tributária (23% contra 36% do Brasil) já encontrou o seu modelo, está investindo na sua multiplicação e priorizando, corretamente, sua primeira infância.
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